
O Arquitecto e o Imperador da Assíria
Estreia: 23 de Outubro 2025 às 21h
Sala Nova
23 de Outubro a 14 de Dezembro de 2025
Quarta e Quinta | 19h
Sexta e Sábado | 21h
Domingo | 16h
Sinopse
O Espelho Ainda Está Partido?
Há perguntas que o tempo não apaga. Pelo contrário, torna-as mais urgentes, mais afiadas. Em 1967, quando Fernando Arrabal escreveu “O Arquitecto e o Imperador da Assíria”, o mundo debatia-se com as suas próprias ruínas e reconstruções. A civilização questionava a sua própria definição, a barbárie espreitava sob o verniz do progresso, e a liberdade era uma miragem para muitos.
Soa familiar?
Hoje, mais de meio século depois, olhamos à nossa volta e a pergunta ecoa com uma força renovada: em que ilha deserta nos encontramos? Quem dita as regras do nosso mundo? Quem é o “civilizado” e quem é o “selvagem” numa sociedade que consome tudo, desde a natureza até à própria identidade?
A Comuna – Teatro de Pesquisa, fiel à sua missão de ser mais do que um palco, mas um laboratório do presente, regressa não com uma resposta, mas com a mais pertinente das provocações. Trazemos de volta este texto icónico de Arrabal porque a sua relevância não diminuiu. Pelo contrário, tornou-se viral.
O “Imperador” vive numa era digital que nos ensina a “falar”, a “pensar” e a “sentir” através de algoritmos. Enquanto o “Arquitecto” vive numa poética mágica.
A peça de Arrabal é o espelho grotesco e hilariante da nossa sociedade deteriorada: uma sociedade onde os jogos de poder são disfarçados de entretenimento.
O que acontece quando o mundo da razão choca com o mundo sensível? Quando o poder e a inocência trocam de máscara tantas vezes que já não sabemos quem é quem?
Nesta temporada, a Comuna não vos convida apenas a assistir a uma peça. Convida-vos a participar numa autópsia. Uma autópsia da nossa “civilização”, das nossas relações, das nossas próprias contradições. Porque o grande teatro, o teatro que investiga e que incomoda, não nos dá o conforto das respostas fáceis. Ele entrega-nos o bisturi e pergunta: “Onde dói mais?”
A cortina vai subir. E a ilha somos todos nós.
Bem-vindos a este espectáculo. Bem-vindos à Comuna.


“O Arquiteto do Pânico”
Fernando Arrabal não é apenas um dramaturgo; é uma força da natureza, um provocador incansável que moldou a vanguarda teatral do século XX.
A sua vida, marcada pelo trauma da Guerra Civil Espanhola e pelo misterioso desaparecimento do seu pai, condenado pelo regime de Franco,tornou-se a matéria-prima de uma obra que grita contra a opressão, o absurdo e os limites da condição humana.
Exilado em Paris desde 1955, Arrabal tornou-se uma figura central do Teatro do Absurdo.
Em 1962, juntamente com Alejandro Jodorowsky e Roland Topor, fundou o Movimento Pânico, um ato teatral e filosófico que celebrava o terror, o humor e a confusão como ferramentas para alcançar um estado de consciência superior.
O Pânico não era desordem, mas uma cerimónia para confrontar os nossos medos mais primordiais.
“O Arquitecto e o Imperador da Assíria” (1967), é um exemplo perfeito do seu génio.
Nela, encontramos os temas que o obcecam: o poder e a sua fragilidade, a civilização como um jogo de máscaras, a inocência corrompida e a memória como um campo de batalha.
Arrabal não escreve peças; ele constrói labirintos onde a lógica é subvertida e a verdade é uma miragem.
Vencedor de inúmeros prémios, incluindo o Prémio Nadal de Romance e o Prémio Nacional de Teatro em Espanha, Fernando Arrabal continua a ser um dos mais influentes e iconoclastas dramaturgos do nosso tempo.
A sua obra não nos oferece conforto, mas sim um espelho vertiginoso. E hoje, mais do que nunca, precisamos da coragem de olhar para ele.

A Estreia foi um terramoto!
Em plena efervescência cultural e política que antecedia o Maio de 68, a peça de Arrabal caiu como uma bomba no cenário teatral parisiense.
O público e a crítica não estavam habituados a uma representação tão crua e, ao mesmo tempo, tão poética de temas como o canibalismo, a blasfémia, a homossexualidade, a inversão de poder e a desconstrução da identidade. A peça foi vista como um ataque direto aos pilares da moralidade burguesa.
A primeira apresentação mundial de “O Arquitecto e o Imperador da Assíria” (L’Architecte et l’Empereur d’Assyrie) aconteceu em 1967, no Théâtre Montparnasse em Paris, França e dirigida por Jorge Lavelli, um encenador argentino de renome que se tornou uma figura chave na apresentação do teatro de vanguarda em França.
A crítica dividiu-se radicalmente.
Uma parte, mais conservadora, considerou a peça escandalosa, gratuita e de mau gosto. Acusaram Arrabal de ser um mero provocador em busca de notoriedade.
Outra parte, mais alinhada com as vanguardas, aclamou a obra como uma obra-prima de génio teatral. Críticos como o influente Bertrand Poirot-Delpech, do jornal Le Monde, reconheceram a sua importância, destacando a sua força poética, a sua complexidade filosófica e a sua relevância social. Viram nela uma metáfora poderosa para a tirania, a solidão do homem moderno e a falência da civilização.
Apesar da controvérsia (ou talvez por causa dela), a peça foi um sucesso retumbante. Cimentou a reputação de Arrabal como um dos dramaturgos mais importantes e audaciosos da sua geração. A encenação de Lavelli foi particularmente elogiada pela sua capacidade de traduzir visualmente o universo caótico e cerimonial de Arrabal. O espetáculo tornou-se um marco do teatro contemporâneo e, desde então, tem sido encenado em todo o mundo, provando que o seu poder de perturbação e reflexão permanece intacto.

“Esta peça não se conta,ela acontece. ”
A Visão do Encenador, Jorge Lavelli
Ainda a propósito da estreia em 1967,o próprio encenador, Jorge Lavelli, descreveu a peça não como uma história, mas como uma cerimónia, alinhando-se com a visão de Arrabal.
“(…)Esta peça não se conta, ela acontece. É um ritual. Duas criaturas, isoladas do mundo, reinventam a totalidade da experiência humana: a linguagem, o poder, a religião, o amor materno, a justiça… É uma parábola sobre a solidão absoluta e a necessidade desesperada do outro, mesmo que esse outro tenha de ser devorado(…)”.
Ficha Artística / Técnica
165ª PRODUÇÃO
Texto:
Fernando Arrabal
Encenação e versão cénica:
João Mota
Interpretação:
Francisco Pereira de Almeida
Rogério Vale
Assistentes de Encenação:
Miguel Sermão
Madalena Nestório (Estagiária da Escola Secundária D. Pedro V)
Desenho de Luz:
Paulo Graça
Ambiente Sonoro e Sonoplastia:
Hugo Franco
Cenografia:
Renato Godinho | João Mota
Operador de Luz/Som:
Hugo Franco | Bruno Simões
Técnicos de Montagem:
Renato Godinho | Assunção Dias
Fotografia:
Pedro Soares
Gabinete de Produção:
Rosário Silva | Carlos Bernardo | Catarina Oliveira
Assistência Geral:
Assunção Dias | Selma Meira | Julieta Lucas
Estagiário Técnica:
Bruno Simões
M/14
Duração: 100min