A Comuna
História
Manter isto a cada dia que passa é um ato de coragem.
No dia 1 de Maio de 1972, nascia a Comuna – Teatro de Pesquisa num 2º andar da Rua Pedro Nunes, em Lisboa. O nome foi escolhido por votação dos ouvintes de um programa de Rádio – a Rádio Renascença – a quem propusemos duas hipóteses: “Os Cómicos” ou ”Comuna”, sempre com o subtítulo de ”Teatro de Pesquisa”.
Queríamos ter o nome do que defendíamos: o actor primordial, o artesão em permanente mudança ao encontro dos públicos afastados do teatro, a procura de novos espaços, ”Os Cómicos” e também a comunidade natural dos criadores sem escalões diferenciados no salário, nas responsabilidades, uma relação frontal com a outra comunidade, os espectadores – A Comuna.
O público escolheu e nós avançámos com o primeiro espectáculo baseado em textos do primeiro autor do teatro português – Gil Vicente – com o título de “Para onde is?” – pergunta que sempre quisemos presente no nosso caminho.
Chamámos para o nosso lado actores vindos do teatro profissional, do teatro universitário e jovens recém-saídos do Conservatório Nacional. De cinco passámos a catorze a ensaiar em ginásios de escolas, salas de colectividades, em casa de uns e outros… E cinco meses depois, no dia 22 de Outubro – dia de anos do João Mota, o nosso encenador – estreámos, numa garagem transformada em Teatro, na Praça José Fontana, em frente ao liceu Camões, alugada pelo empresário teatral Vasco Morgado, que nos emprestou também os panos com que forrámos as paredes, a estrutura da bancada do público, e alguns projectores. Os bilhetes tinham o preço único de 20 escudos e ali ficámos a esgotar 150 lugares por noite, durante quase meio ano.
Temos sido fiéis àquilo que nos propusemos em 1972, ao nosso primeiro manifesto, apesar dos governos (tantos), dos ministros (mais do que a conta), das políticas culturais (quais?), das modas, das televisões, das capelinhas, dos ódios de estimação, a Comuna orgulha-se de estar viva e de continuar a ser um espaço permanente de Pesquisa de um Teatro Vivo, dramaturgia de ruptura, espaço de nascimento e crescimento de novos actores e autores, um laboratório permanente em consonância com um público que conhecemos já em terceira geração e que sabe que, quando vem à nossa Casa, é para partilhar um espaço que também lhe pertence, pois a nossa história é também a Vossa história. Porque só assim o Teatro tem sentido para nós!”
“Auto da Justiça” (1997), de Francisco Ventura.
“À vossa vontade” (2013), de William Shakespeare.
Missão
É necessário que a prática teatral seja encarada como um ato de resistência.
A linha de orientação do programa que definimos é composto por princípios e pontos fundamentais de continuidade do trabalho de “pesquisa teatral” desenvolvido pela Comuna há mais 46 anos, que não se esgota no tempo e se concretiza na materialização dos temas, cumprindo os objetivos que sempre defendemos na nossa criação: Divulgação da dramaturgia mundial e novas dramaturgias, espetáculos infantis, divulgação poetas portugueses, coproduções, cocriações, itinerância nacional e internacional, educação e formação.
Sempre divulgámos a grande dramaturgia mundial, entendemos que faz parte de um património comum, sendo responsabilidade nossa dar a conhecer ao novo público grandes textos da história do Teatro Nacional e Mundial que marcaram uma determinada realidade e continuam atuais. Como referido anteriormente, a nossa missão é apresentar desde os grandes clássicos a novas visões dos mesmos, a autores contemporâneos.
A caracterização da opção programática das actividades está profundamente enraizada na sua essência com o dar continuidade à criação teatral em sectores importantes que possam unir e motivar os diferentes núcleos etários e culturais: espetáculos para um público generalizado, infanto-juvenil e para um público ou camadas de público mais específicas e a procura de novas formas de divulgação e promoção dos espetáculos, aprofundando as experiências de coprodução e cocriação com outras entidades culturais.
“Play Strindberg” (2015), de Friedrich Dürrenmatt.
A Comuna privilegia a criação de um elenco base formado por elementos de longa experiência no grupo, assim como a integração permanente de novos elementos recrutados entre os atores recém-formados. A fusão destas gerações de criadores permite uma renovação permanente das estruturas criativas e técnicas do grupo, e também a continuidade de uma pesquisa teatral que faz parte dos nossos objetivos permanentes. Esta experiência tem permitido a revelação e a consolidação de novos actores através dum trabalho continuado e ainda o aparecimento de novos encenadores, criados a partir da “casa-mãe”.
É necessário que a prática teatral seja encarada como um ato de resistência, que contribua para criar uma alternativa forte e profunda, sem prescindir dos seus aspetos lúdicos e formativos das consciências de uma geração futura em pleno usufruto das suas capacidades e responsabilidades.
Queremos que o Teatro marque a diferença no plano cultural, como um laboratório de partilha permanente entre os criadores e o público, promovendo um espaço de reflexão conjunta sobre a sociedade de que fazemos parte, privilegiando a expressão de uma sensibilidade portuguesa, não fechada sobre si própria, mas aberta a um novo mundo em constante mutação. A fixação da nossa identidade como língua e cultura, permite ao público rever-se e identificar-se nas suas particularidades e riquezas.
A Comuna orgulha-se de continuar a ser um lugar de aprendizagem e crescimento para aqueles que a integram e que nela têm encontrado espaço para desenvolver e aprofundar as suas capacidades artísticas, experimentando novos campos de criação como a encenação, a escrita teatral e o ensino.